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Final Fantasy IX e os sentimentos escondidos sob a névoa


De onde nós viemos? Nós vamos para lá quando morremos? -Vivi

O que exatamente nos torna humanos?

A nossa consciência? Tá, mas e as inteligências artificiais? Elas não podem, um dia, possuir consciência?A nossa inteligência? A inteligência estaria diretamente ligada à nossa capacidade de descobrir e aprender as coisas, mas, seguindo esse raciocínio, não somos muito diferentes de gatos ou cachorros.

Então seria a nossa noção de existência, pois sabemos que existimos, logo, animais e robôs não podem ser humanos, certo? Mas, e se estivermos em uma matrix, onde todas nossas memórias, conhecimentos, gostos e desgostos e até a nossa personalidade foram implantadas ou moldadas para nos forçarem a acreditar que existimos.

Esse é um papo bem complexo -pra não falar "louco", mas que não vou tratar aqui. Contudo, por incrível que pareça, esse assunto é especialmente abordado no Final Fantasy IX, onde o arco do pequeno mago negro Vivi aborda justamente isso: a descoberta da sua própria existência -ou, no caso, inexistência.



O saudosismo e a volta às origens

Antes de discorrermos sobre o Vivi em específico, vamos conversar um pouco sobre o jogo em si, já que esse é o intuito do artigo.

FFIX veio com um olhar meio torto por parte da crítica e dos jogadores. Coisa que hoje é muito comum na série, na época pouco se modificava os elementos da franquia, quando normalmente se adquiria as principais características dos antecessores (lê-se MELHORES características), e as implantavam no próximo jogo. Assim veio o sucesso de Final Fantasy VII, com sistemas e narrativa já consagradas da série, mas com uma história inovadora.

O Final Fantasy IX veio com uma ideia diferente. Ele era, na verdade, uma homenagem aos primórdios da série, com uma história bem mais simples e clichê, além de um mundo novamente medieval com uns toques de steampunk (mistura essa que é bem comum na série).

Isso, junto com uma trilha sonora não tão marcante (segundo a crítica da época) e personagens bem mais caricatos e infantis, com uma arte no estilo super deformed, fez todo mundo torcer o nariz para o jogo, sem entender exatamente para qual caminho a franquia estaria rumando.

É até interessante pensar que, hoje em dia, muito se busca o saudosismo nos jogos. Quando uma empresa tenta inovar, muitas vezes ela é criticada por tal ação. Exemplos disso nós temos aos montes, como em Pokémon, que eu mesmo acabei criticando nesse artigo. Isso nos faz refletir até onde uma empresa pode mudar seu jogo sem perder os fãs mais nostálgicos e, ainda assim, trazer novos fãs. A Square não teve medo de procurar essa resposta, mesmo na sua principal marca. Porém, é evidente que, após o Final Fantasy XII, ela não conseguiu produzir títulos tão influentes como os da era 32-bits.

Hoje nós sabemos que tudo isso foi proposital. O nono título da franquia tinha o propósito de voltar às origens, que haviam se perdido nos jogos mais recentes -isso, inclusive, faz o jogo ter uma cara de "spin-off", e não um título numerado da série. A história não era apenas "simples e clichê", mas sim descompromissada e atrativa à novos jogadores. Por esses e outro motivos, esse é um ótimo título para quem busca conhecer a franquia, mas nunca tocou em um jRPG antes.

Essas mudanças não foram tão acentuadas nessa época, mas já pode-se dizer que eram protótipos dos experimentos que a Square faria com futuros títulos da franquia, como o Final Fantasy XII.

Enquanto as críticas se concentravam na história do game, muito se elogiava sobre os gráficos -os mais bonitos da série na era dos polígonos.

Os fundos, assim como em FFVII e FFVIII, eram pré-renderizados, e em muitos locais usufruíam do sistema Full Motion Vídeo, o qual permitia vídeos curtos em loop para simular as animações do cenário, o que deixava bem rico visualmente.

Outro ponto interessante dos gráficos se trata das CGs, as animações pré-renderizadas que em vários momentos aparecem para agraciar nossos olhos. Essas animações eram de extrema qualidade e, diferente do sétimo título, envelheceram muito bem, e são bonitas até os dias de hoje.

Alerta de Spoilers: Leia por sua conta e risco!


Gaia e o continente da névoa

O jogo se passa no planeta chamado Gaia -assim como os outros jogos da série, mas nenhum se passa no mesmo universo, claro, com algumas exceções- e, nesse planeta, há quatro continentes: Mist, Outer, Lost e Forgotten. A maior parte do jogo, além dos principais acontecimentos se passam no Mist Continente que, como o nome sugere, é coberto por uma misteriosa névoa, que é responsável por causar grande parte das criaturas malignas selvagens do local. Porém, ela também é usada fortemente como fonte de energia dos Airships, navios gigantescos alimentados pelas névoas e que voam pelos céus. Lindblum, um dos maiores reinos de Gaia, conhecido principalmente pelos seus avanços tecnológicos, foi capaz de construir, apenas recentemente, Airships alimentados a vapor, o que torna possível a viagem para fora do continente.

Além de Lindblum, também existem outras duas grandes nações: Alexandria e Burmecia. Alexandria,é uma nação conhecida por possuir dois grupos militares: o exército feminino, que é liderado pela guerreira capitã Beatrix, e os Cavaleiros de Plutão -uma tradução livre para "Knights of Pluto"- liderado pelo capitão Adelbert Stainer. O reino é liderado pela Rainha Brahne, mãe adotiva da princesa Garnet, e que esconde diversos segredos, dentre eles, a criação de um exército de magos negros artificiais para iniciar uma guerra contra Lindblum.


O mago, a princesa e o ladrão

Tudo começa no aniversário de dezesseis anos da princesa Garnet Til Alexandros XVII, filha adotiva da rainha Brahne Raza Alexandros XVI, atual governante do reino de Alexandria. Assim como de costume, todos os anos, no dia do aniversário da princesa, o grupo de teatro chamado Tantalus vai até o castelo performar a peça "I Want to be Your Canary", que é bastante apreciada tanto pela rainha, quanto pela princesa. Porém, dessa vez, o grupo não estava ali apenas para encenar a peça, mas também com ordens diretas do Regente Cid de Lindblum, tio da princesa, que a sequestrassem para descobrir os planos de guerra que estariam sendo traçados pela rainha alexandriana. Dessa forma, Zidane e seus companheiros liderados por Baku armam um plano de sequestrar a princesa enquanto a peça é apresentada -a distração perfeita. Porém, o que eles não esperavam era que a própria princesa planejava fugir clandestinamente no Prima Vista, o dirigível usado pela tropa.

Nesse meio tempo, o pequeno Vivi, um jovem mago negro que possui sua pele coberta por uma aura negra, desejava assistir a peça, porém seu bilhete não era válido. Após conhecer o jovem Buck, um garoto Burmeciano, e uma sequência de acontecimentos, Vivi se vê no meio do Prima Vista, que foge com a princesa enquanto é atacado pelos canhões de Alexandria.

Com a princesa, o pequeno mago e Stainer, líder dos Knights of Pluto, que estava ali como um guarda-costas da princesa a bordo e o Prima Vista em pedaços, graças aos ataques ordenados indiscriminadamente pela rainha, eles acabam caindo diretamente na Evil Forest, uma floresta cheia de segredos, onde quem entra nunca mais foi visto do lado de fora.

Após uma nova sequência de eventos, a floresta, que anteriormente havia atacado o grupo por meio de plantas sencientes, começou a se petrificar juntamente com aqueles que estavam ao seu caminho. Zidane, Vivi, Stainer e Garnet se livram da floresta, mas Blank, um dos membros da Tantalus se vê petrificado. Como não havia o que fazer naquele momento, eles resolvem voltar ao seu caminho e rumar de volta a Lindblum, onde o regente Cid os esperava. Isso tudo ocorrendo contra a vontade de Stainer, pois seu principal objetivo era levar a princesa de volta à Alexandria, e o fez de tudo para conseguir.

Stainer, sempre fiel à rainha, não acreditava que ela poderia estar tramando algo daquele nível. Ele possui um arco bem interessante, já que, mesmo com todas as provas na sua frente, ele ainda cultiva esperanças da rainha ser a pessoa bondosa que ele havia idealizado. Ele é, muitas vezes, um personagem muito irritante, pois faz de tudo para atrasar o caminho dos protagonista, sendo muitas vezes um peso para eles.

Zidane, por outro lado, nunca se importou muito com Stainer, muitas vezes o ignorando. Apesar de jovem, possui um passado bem misterioso, mas nunca se mostrou alguém a quem não se pudesse confiar. Sempre fez de tudo para ajudar a princesa, o que acaba criando um certo clima entre ambos.

A princesa Garnet é, sem dúvida, a personagem mais corajosa do grupo. Não gosta de ser tratada como apenas uma "princesa frágil e delicada", levando a mesma a colocar sonífero na comida de seus companheiros para que ela pudesse seguir seu caminho. Em certo momento da história, ele adota o nome de Dagger, para que possa se inserir melhor entre as pessoas comuns, e não seja descoberta.


A melancolia e complexidade de Vivi

Um mago negro que nem sabe sua própria origem. Uma criança órfã que segue um destino triste e muito mais pesado que poderia se imaginar. Vivi é um dos personagens mais complexos da série, pois ele vive sob o tormento de nem saber se é humano.

Sua inocência no início da série vai se tornando uma forte melancolia, principalmente quando ele chega à pequena vila de Dali, e descobre os planos de produção de Black Mages -muito parecidos com ele- em massa.

Em busca de mais respostas, ele segue com o grupo de protagonistas, visando derrotar a rainha de Alexandria e conhecer melhor seu passado.

Logo ele se depara em uma vila perdida onde diversos Magos Negros que, assim como ele, adquiriram consciência própria, se refugiaram do domínio de seus criadores. Lá, eles vivem com medo, e Vivi descobre que, mesmo eles sendo artificiais, após algum tempo eles "param de funcionar". Isso é um choque para o jovem que, ainda mais espantado, vê que seus "irmãos" não compreendem corretamente o significado da morte.

Durante a sua jornada, Vivi experimenta, mais de uma vez, o terror proporcionado por seus "irmãos", que servem como um "exercito de bonecos" controlados ao bel-prazer da rainha -que, na verdade, não é exatamente ao seu bel-prazer, mas sim ao de quem a está controlando.

Pensar que ele foi criado apenas como uma máquina de guerra, e tentar descobrir porquê criou consciência própria é a sua verdadeira jornada. Isso tudo o torna o personagem mais rico do grupo. Ele não deseja usar seus poderes para acabar com a guerra, ou mesmo matar a rainha Brahne, é muito mais simples e inocente que isso, ao mesmo tempo que é tão complexo quanto a jornada de diversos filósofos da nossa história. Ele parte em uma jornada de auto-conhecimento, em busca do motivo de sua própria existência. Ele busca as respostas das maiores questões ainda não respondidas pela filosofia: qual o sentido da vida? E para onde vamos e de onde viemos?



Considerações Finais

Final Fantasy IX é o meu título favorito da série principal -desconsiderando, claro, o Tactics, que ainda pretendo falar sobre. Isso se deve ao seu carisma e, principalmente, à sua ambientação. Eu entendo quem não gosta desse título, já que ele destoa bastante do que vinha sendo produzido na época. Apesar de ser, provavelmente, o jogo que menos influenciou no futuro da série, não dá pra desconsiderar suas qualidades. É um ótimo título se você pretende conhecer a série, pois ele traduz muito bem seus primórdios, trazendo uma linguagem bem mais simples e pouco complexa no enredo, diferente do tom sério que havia se instaurado na série nos três títulos anteriores.

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