SOBRE ADOLESCÊNCIA E AMADURECIMENTO - ESPECIAL MOB PARTE 1

Um garoto normal, estudante de ensino médio, com poderes paranormais.

Bem, essa linha resume basicamente 80% dos anime shounen que você já deve ter assistido.

Mas, diferente do que possa parecer, os clichês apresentados em Mob Psycho 100 são uma mera estrutura narrativa, a fim de carregar um conteúdo muito mais denso e sensível por trás.

A história acompanha Shigeo Kageyama, apelidado de Mob. Ele é um jovem comum, nem um pouco popular, que na maioria das vezes nem ao menos demonstra suas emoções.

Emoções essas que, diferente de todos os outros personagens do anime, não são demonstradas por expressões ou comportamentos. Elas são demonstradas de forma muito mais abstrata, por meio de uma porcentagem na tela.

Seus poderes advém de suas emoções. Basicamente, quando essa porcentagem chega a 100%, elas transbordam e podem explodir junto com seus poderes. Isso vale para tudo: raiva, medo, alegria.

O jovem é aprendiz de Arataka Reigen, um dono de um escritório de exorcismo. Bem, ser dono desse escritório não o torna exatamente um paranormal. Na verdade, Reigen não passa de um charlatão de marca maior que usa os poderes de Mob para realizar seus trabalhos sob a desculpa de que o garoto deveria aprender a  dominar seus poderes, enquanto ele seria tão poderoso que não  precisaria usar suas habilidades.

Por mais que possa parecer estranho, Mob acredita firmemente em seu mestre. Ele praticamente o idolatra, já que foi aquele em quem pôde confiar quando não tinha mais para onde ir e desabafar sobre seus problemas, quando ainda era criança. 

É estranho, de fato, mas não dá para ter aquele sentimento negativo de Reigen. Ele é um maluco que, antes de conhecer Mob, nem sabia que o paranormal existia, mesmo já atuando como um exorcista. Entretanto, ele de fato é um bom mestre. Ele ensina a Mob que não deve se deixar levar pelas emoções, mesmo em momentos desesperados.

Com sua postura confiante e sua insuperável lábia, Reigen é dono de feitos realmente inacreditáveis.

Quando eu digo inacreditáveis, é bizarro mesmo, ele chega muito longe sem nem saber o que está fazendo.

Ele bate de frente contra paranormais poderosíssimos e, apenas na sua arte de persuasão e sua postura de quem sabe o que está fazendo -mesmo sem saber, ele é quase invencível.

Reigen é um cara comum.

Na escola, como já dito, Shigeo é extremamente tímido, se tornando alguém sem nem um pingo de popularidade. Ele atribui isso aos seus poderes, já que ele julga ser alguém esquisito, pois é diferente de todos os outros.

Aí começa um dos pontos mais importantes do anime: o dilema do protagonista. Mob odeia seus poderes, mas aprende e se desenvolve juntamente com os mesmos.

Ele tem medo de utilizá-los, já que não os controla bem. Ele já machucou pessoas dessa forma, então, sempre que pode, esconde isso de todos.

Seu irmão, Ritsu Kageyama, no entanto, é um dos garotos mais populares do colégio. Ele sente inveja de Mob, pois sempre quis possuir seus poderes. Da mesma forma, não entende do porque de Mob não os utilizar para se tornar mais popular. Entretanto, Ritsu respeita e, sempre que pode, ajuda seu irmão. Até um certo momento.

Como uma forma de buscar se enturmar, Mob decide procurar algum clube de seu colégio. Ele acaba encontrando o Clube de Telepatia que, na verdade, é formado por um bando de preguiçosos que só queriam um lugar para comer besteiras e jogar video-games.

Entretanto, o clube estava prestes a ser extinto, já que não tinham mais a quantidade necessária de membros para continuar funcionando. Então, com a entrada de Mob, eles poderiam finalmente manter sua sala e seu tempo livre.

Mas Mob acaba desistindo e entrando para o Clube de Fomento Corporal, o clube dos marombeiros.

FOMENTO CORPORAAAAAAAAL!

Isso frustra a galera preguiçosa...

Mas o Fomento Corporal acaba permitindo que eles permaneçam na sala junto com eles...

Tá dando pra entender o que eu quero dizer, até aqui? Não? Então vamos lá.

As relações sociais em Mob Psycho 100 não são sobre conflitos. Não é como uma novela cheia de intrigas e traições. São sobre relações humanas. São sobre como adolescentes se comportam no seu dia a dia.

Alguns só queriam ter um tempo para fugir do mundo exterior cheio de problemas e passar o dia jogando e conversando sobre mangás. Outros queriam praticar seu hobby de cuidar do corpo e fazer exercícios. Não existiam conflitos de interesses, portanto não haveriam problemas em ambos os clubes permanecerem juntos.

Mob, como um adolescente normal, procurou o clube que potencialmente o tornaria mais popular. Isso tudo é extremamente natural e retrata muito bem o pensamento de alguém que se sente à margem e vê a possibilidade de fazer parte da sociedade.

Após alguns acontecimentos, Mob conhece Covinhas, um espírito maligno dono de uma seita. Seu objetivo é ser adorado e, vendo que o garoto não pereceria sob suas artimanhas, o espírito o ataca.

Mob o derrota facilmente.

A essa altura do anime, já podemos perceber as semelhanças com a outra obra do mesmo autor, One Punch Man.

Ambos contam a história de protagonistas, digamos, "normais", mas que não expressam nenhum tipo de emoção e que são virtualmente invencíveis.

Mas existem diferenças cruciais entre as obras.

Enquanto One Punch Man é sobre um jovem adulto que treinou para conquistar suas habilidades e que não sente o mínimo prazer em lutar já que ninguém consegue chegar perto dos seus poderes, Mob Psycho 100 é sobre um garoto que não sente prazer em lutar por que ele nem mesmo queria ter poderes, mas sim ser normal.

Ao ser derrotado com tal facilidade, covinhas se convence de que a melhor maneira de conseguir seus objetivos seria se juntando a Mob.

Após alguns eventos, um novo personagem entra em cena: Teruki Hanazawa. O primeiro paranormal que Mob tem contato em sua vida.

Hanazawa havia meio que dado uma surra em uns delinquentes. Delinquentes esses que também levaram uma surra de Mob, quando eles tentaram encarar o clube do Fomento Corporal.

Eles ficam sentidos e armam um esquema para que Mob e Hanazawa se enfrentem. É nesse momento em que conhecemos um pouco do potencial das cenas de ação do anime.

Basicamente, apesar dos traços extremamente simplórios e minimalistas em vários momentos, a animação se torna muito complexa e, inclusive, variando bastante seu estilo de acordo com as cenas.

O garoto de cabelos dourados parte pra cima com tudo, tentando enfurecer o protagonista. Meio que não dá muito certo e Mob, que é contra violência e odeia utilizar seus poderes contra os outros, simplesmente não reage.

Hanazawa mata Covinhas. Mob, mesmo sentido com a perda de seu amigo, não reage em nenhum momento.

Até, após revidar um ataque de seu inimigo, algo realmente impactante ocorre.

Mob deixa Hanazawa careca.

Deu pra pegar o humor do anime, né?

O jovem egocêntrico e narcisista se enfurece, pois sua belíssima imagem estava manchada.

Então, parte pra cima de Mob com tudo, enforcando o garoto e o fazendo desmaiar, chegando a beira da morte, praticamente implorando para que ele revidasse seus ataques.

Até que, enfim, praticamente inconsciente, as emoções do jovem transbordam ao chegar em 100%.

Mob o derrota facilmente.

Por sua vez, Ritsu é confundido com seu irmão e é chamado para um tipo de laboratório paranormal, o Laboratório Despertar, onde seu pesquisador, Kenji Mitsuura busca estudar e desenvolver os poderes paranormais de alguns jovens. Lá, o jovem acaba despertando finalmente seus poderes.

Covinhas, na verdade, sobrevive. Ele acaba se encontrando com Ritsu, que finalmente pode vê-lo. Assim, utilizando a habilidade do espírito, Ritsu resolve utilizar seus recém-descobertos poderes para obter algum tipo de vantagem sobre os outro alunos de sua escola.

Assim, os poderes paranormais deixam o garoto cego, o fazendo se tornar alguém detestável, alguém que ele não era de fato.

Com grandes poderes vem grandes responsabilidades, diria o tio do Peter.

Shigeo descobre, enfim, que seu irmão adquiriu poderes, fica feliz com isso, mas desaprova suas atitudes.

No meio disso, um cara esquisito que também era paranormal surge atacando os garotos. Apesar de ser poderoso, Ritsu ainda era inexperiente e não consegue se defender. Mob consegue bater de frente, sendo uma das lutas mais emocionantes até esse ponto.

Mas vendo que não tinha chances, o cara usa um aparato de spray e faz o garoto ficar desacordado.

Um tempo depois, Mob acorda na casa de Hanazawa, que explica o que estava acontecendo.

Aquele maluco é de uma instituição chamada Garra, cujo objetivo é recrutar, ou sequestrar, da maneira que lhes for mais conveniente, paranormais, para que, com seus poderes, outros paranormais artificiais sejam criados. Eles já estavam atrás de Teruki, e agora estavam atrás também do cara que deu uma surra naqueles delinquentes e que também havia destruído a escola durante a luta contra o garoto loiro.

Lembra que eu disse que Ritsu havia sido confundido com seu irmão pela galera do Laboratório Despertar? Bem, não foram só eles que se confundiram. Basicamente todo mundo pensou que, tanto a surra nos delinquentes, quanto a luta na escola haviam sido obras dele, ninguém nem ao menos sabia da existência de Mob.

A garra havia ido atrás exclusivamente de Ritsu, pois não sabiam que Mob era o verdadeiro Kageyama com tantos poderes. Entretanto, ao demonstrar seus poderes contra o valentão, Shigeo se tornou também um alvo da organização.

Ritsu e os outros garotos do laboratório são sequestrados e mantidos presos. Lá, mesmo seus poderes sendo extremamente fracos em comparação com os soldados da Garra, eles conseguem escapar da sela e partem em busca de uma saída.

Enquanto isso, Mob, Covinhas e Hanazawa partem em busca de Ritsu para salvá-lo. Eles dão uma surra nos soldados que encontram.

Até que surge, em fim, o grande líder da instituição.

Sim, Arataka Reigen aparece em cena...

É... Mais ou menos...

Lá no começo eu disse que ele tem uma incrível lábia e que tem feitos incríveis, né?

Ele meio que engana uma cacetada de paranormal, a galera de baixa patente que nunca havia visto o rosto do líder da Garra antes.

Como eu disse, ele fala com confiança e propriedade. Esse cara é um gênio.

Ele absorve os poderes do Mob e, agora além de sua lábia, ele também tem poderes -temporários, mas tem poderes. Eles derrotam os Cicatrizes, que eram uma das patentes elevadas da organização, ao qual aquele carinha que sequestrou o Ritsu faz parte.

Um garoto estranho aparece e derrota o líder dos Cicatrízes.

Ele é filho do líder da Garra.

Assim termina a primeira temporada.

O anime gira totalmente em torno do amadurecimento de Mob, da sua puberdade, de seus desejos de adolescente. Gira em torno também de sua maturidade e da total imaturidade dos adultos, em especial dos vilões.

Muitos que ainda não conhecem Mob podem compará-lo ao Saitama, ou comparar ambos os animes. Entretanto, fazer isso é um grande equívoco, tendo em vista que cada um possui seus próprios questionamentos.

De fato, em ambos os animes, os dois protagonistas se questionam o tempo todo com relação às suas capacidades. Porém, para Saitama, ter poderes é um saco, já que o torna praticamente onipotente, o que torna sua vida sem graça. Entretanto, para Shigeo, ter poderes é inconveniente, já que tudo que ele queria era uma vida normal.

É evidente que o mesmo autor trouxe visões diferentes para uma mesma questão: ser poderoso não traz felicidade. Muito pelo contrário, isso pode fazer a vida chata, irritante ou até mesmo perder o sentido.

Pode-se, inclusive, fazer um paralelo com o próprio One. O autor, que utiliza de seu pseudônimo para assinar suas obras, prefere sua vida de "anonimato", enquanto suas obras fazem enorme sucesso. Seria, inclusive, irônico que alguém que discute justamente a não felicidade trazida pelo poder usasse de seu próprio sucesso como forma de auto-promoção.

Porém, novas discussões serão trazidas na parte 2, em que falaremos da segunda temporada.

Até a próxima, pessoas.